quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O que vale mais?

No caso do seqüestro de Santo André, erraram o seqüestrador, as vítimas, a polícia, a família, todo mundo. Desses, aqueles que devem receber maior cobrança são o seqüestrador, na forma da punição após julgamento, e a polícia, que ganha do Estado para proteger o cidadão e supostamente seria treinada para situações dramáticas como aquela. Essas cobranças foram, são e serão feitas via imprensa, via justiça, via mobilização popular.
Mas eu realmente gostaria de ver uma reflexão mais profunda sobre o papel da imprensa nesse episódio. Por N motivos.
Primeiro, pela desconfiança que tenho de que um seqüestro em que o seqüestrador já tem em sua posse aquilo que supostamente quer é completamente diferente em matéria de negociação de um seqüestro por motivação financeira. O que queria exatemente o rapaz? Será que em algum momento ele sentiu que uma das coisas que poderia querer já havia conseguido: a visibilidade do que estava fazendo? Nesse sentido, penso que declarações como estas, de um ex-membro do BOPE, devem ser consideradas seriamente.
Segundo, pela desconfiança de que a mídia estava mais preocupada em não perder nenhum detalhe do que se passava do que em colaborar racionalmente para um desfecho em que vidas fossem salvas. Isso levou a uma cobertura sensacionalista, em que o crime se transformou em show midiático e as emissoras simplesmente se esqueceram de que existem celulares, a informação corre depressa, as pessoas se comunicam e tudo isso pode influenciar o que está sendo comunicado numa proporção impossível de calcular com exatidão. O show midiático em que esse seqüestro se transformou prolongou-se até os limites do bom senso, como atesta a preocupação em fazer uma coletiva de imprensa com os médicos que retirariam os órgãos da menina morta, seguida de várias notícias sobre quem os recebeu e quais recebeu. Será que é jornalístico alimentar essa incoveniente curiosidade mórbida a respeito de um corpo já privado de sua vida? Como se sentem, ou se sentirão, aqueles que receberam os órgãos da menina? Será que eles precisavam mesmo saber da vida pregressa do ex-dono daqueles órgãos? Pois não estavam eles justamente esperando por órgãos independente de quem os fornecesse, até porque não tinham escolha em relação a isso, uma vez que suas vidas estavam em risco? Para que construir uma heroicização compensatória de uma pessoa assassinada expondo outras que nada tem a ver com isso?
Por fim, incomoda-me sobremaneira a forma como os adolescentes se comportaram neste triste caso, e a inépcia em perceber o efeito da mídia sobre esse comportamento. O que leva o rapaz a declarar ao comandante policial que está no controle da situação? O que leva uma menina recém saída de uma situação que colocou em risco a sua vida pedir a visita de uma celebridade futebolística? Isso é ou não é percepção da visibilidade adquirida? Isso não tem a ver com a atuação da imprensa? Ou é pura arrogância, num caso, e inconseqüência adolescente, no outro?
Em função de tudo isso, espero alguém escrever uma boa análise do papel da imprensa neste caso estranho e aterrador. Quando encontrar alguma, coloco neste post.

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Achei.
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3282737-EI6616,00.html
Vale a visita.

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Atualizando em 3 de dezembro de 2008.

Notícia sobre o processo contra a Rede TV. Notar os comentários sobre a notícia, que não vêem nada de errado na atitude da imprensa. Queria ter essa confiança toda.

domingo, 19 de outubro de 2008

O biscoito fino de Idelber

Idelber tem o melhor blog de quantos conheço na blogosfera brasileira. Deu um show nesta postagem sobre o caso da homofobia da campanha da Marta.
O que me deixa feliz em relação ao professor é sua sempre farta generosidade em fornecer os links para as informações que posta. Por meio desses links, cheguei a blogs interessantíssimos, como o de Mary W. Fiz uma comunidade no orkut para leitores dele, mas acho que, dos leitores dele, só eu e mais uma temos orkut...
De qualquer forma, confira o link. É show.